Corredor dos Armários

Ele me olha de um jeito penetrante, e sorri, o que simplesmente tirou todas e quaisquer bases que eu podia ter até então, olho para ele um tanto boquiaberta, porém mantenho o olhar serio, escondendo a profusão de pensamentos que se debatiam em minha mente enlouquecidos.
Sinto sua mão tocar o meu rosto com delicadeza, o que provoca um arrepio em meu corpo. “Tão macias e quentes” os pensamentos afloram em minha mente, reviro os olhos afastando aqueles pensamentos com rapidez.

- Vamos... Sorria!

Sua voz ecoa em minha cabeça, provocando diversos ecos, quem era ele para falar em sorri? Perguntas ecoavam em minha mente e eu sentia meu coração pulsar rapidamente. Seus olhos fixos nos meus não me transmitiam nada claro, porém a segurança que eles me davam era perturbadora. Porém mais perturbador que a segurança era os fatos de olhos tão azuis quanto o gelo poderem queimar como o fogo, respirei pesadamente, contendo as ondas de incertezas que varriam meu corpo. Aquela não era eu, eu sempre fora decidida e tomava a rédeas de qualquer situação, e era isso que eu faria. Franzi os lábios, e coloquei a mão suavemente sobre a sua, a tirando do meu rosto.

- Você tem mão muito destrutivas eu diria... Não quero arriscar.

Falei com um tom zombeteiro e um riso malicioso nos lábios, mais uma vez mascarando com perfeição a profusão de sentimentos que apenas um toque me causara, e que não deveria causar.

– Passou a raiva?

Pergunto erguendo uma de minhas sobrancelhas.

Eu olhava nos olhos do garoto outra vez e o que eu via me atormentava e me desnorteava completamente, eu não conseguia compreender o misto de sentimentos que se passavam pela cabeça dele, eu apenas podia observar a mudança rápida que ocorria dentro dele, pela expressão em seu rosto, ora demonstrando dor e tristeza, ora demonstrando alegria, uma profusão de sentimentos guardados, aquilo era extremamente estranho e perturbador, franzi os lábios e espreitei os olhos completamente consternada, aquilo ia acabar comigo, definitivamente, o garoto além de enlouquecer iria me enlouquecer.
Fico o observando sem saber bem o que falar o que pensar ou como agir, as coisas se passavam rapidamente em minha mente, o que me era cada vez mais enlouquecer, sinto alguma coisa esbarrar em meu ombro e seguro minha língua para não xingar o garoto que esbarrara em mim derrubando meu fichário no chão e que continua seu caminho sem nem ao menos desculpar-se, aperto os punhos.

“Doidos!Ok minha paciência acabou!”

Penso um tanto irritada e nervosa, o garoto estava me enlouquecendo.

- Sim... Passou!

Escuto suas palavras respondendo uma pergunta minhas e bufo ignorando-as completamente, olhos em seus olhos pronta para lhe sacudir e falar algumas palavras porém ao observar seus olhos, percebo seu olhar vago e triste, como quem está em alguma planeta distinto, longe, muito longe, como se nada realmente toca-se nele, senti meu coração apertar com as lembranças.


“ A garota se olhava no espelho sem ver o reflexo os cabelos loiros e sedosos lhe caiam pelos ombros, porém naquele dia não importava se os cabelos estavam feios ou não importava se os olhos estavam manchados de olheiras profundas, devido a noite mal dormida e as intermináveis lágrimas que lhe escorriam pelos olhos sempre que se distraia e deixava a mente vaguear.
Ela olha nos espelho olhando profundamente em seus próprios olhos, o azul nunca lhe parecera tão frio e estranho, porém ao olhar o reflexo de seu belo rosto no espelho, não era como se olha-se para si mesma, e sim uma completa estranha, pois a garota no espelho era real demais, palpável demais, e ela já não se sentia assim, ela sentia como se seu mundo fosse tomado por sombras terríveis e profundas, como se nada mais pudesse voltar a fazer sentindo.
A garota fechou os dedos das mãos em punhos com tanta força, que os nos dos dedos ficaram esbranquiçados e saltados, ela sentia seu coração de vagar, porém ainda o sentia, apenas um nome dançava em sua mente e era aquele nome que lhe provocava tanta dor, a vida era tão cruel e injusta...
Conforme ela observava os traços no espelho a figura pálida e triste o nome continuava a dançar em sua mente e como se tivesse bordas espinhentas lhe feria profundamente lhe doía lhe fazia sangrar o coração... “AMY” o nome voltava a dançar, a garota espremeu os olhos deixando que mais lagrimas escorressem por seus olhos, enquanto gemia baixinho.
Ela encostou-se na parede e caiu no chão chorando completamente seca se sentindo tão morta quando sua doce irmã, a saudade lhe invadia o peito lhe enchendo de desespero.
A porta se abre de vagar, porém a garota já não vê nada e não se importa com nada ela sabe que tem que ser forte e superar, que tem que erguer a cabeça por mais difícil que o seja.
Daffine sente o corpo estremecer em meio a um soluço com o toque em seus ombros, a garota olha para cima vendo os lindos olhos castanhos da mãe, e se joga nos braços da mesma jurando a si mesmo que aquelas seriam suas ultimas lagrimas.

- Calma amorzinho tudo vai dar certo ta minha pequena...

As palavras da mãe não faziam sentindo mas pelo menos ela sabia que tinha com quem contar, e que tinha por quem ser forte outra vez.”


Olho para o garoto me afastando daquelas lembranças que me eram tão dolorosas, observo-o cair ao chão como eu mesma já havia feito, olho para o corredor cheio de gente e suspiro pesadamente lhe estendendo a mão.
- Ok! Você não ta legal gatinho... Vem vamos para algum lugar menos tumultuado...

Digo suspirando enquanto espero que ele pegue a minha mão, eu definitivamente havia perdido completamente meu amor próprio.

Volto a andar pelo corredor ainda um pouco confusa com tudo o que havia acontecido, eu não compreendia nada porém estava completamente disposta a esquecer os eventos anteriores, simplesmente não fazia diferença, e era melhor que ficasse do jeito que estava.

Segurei os materiais junto ao corpo e olhei para a multidão, mantendo o nariz ligeiramente empinado. Os alunos se mexiam desordenadamente, abrindo espaço para mim, porém eu sentia que o tumulto não era causado pela minha presença. Lancei um olhar por cima do ombro temendo o que veria, e avistei o mesmo garoto com quem eu conversava nos jardins. Mordi o lábio inferior, e apartei o passo o ignorando.

Cai no chão sentindo a irritação percorrer meu corpo, olho quem me derrubou, mantendo a classe, para não espanca-lo.
Fico de pé rapidamente, e olho feio para ele.

- Além de louco é mal educado e o diabo!

Esbravejo rapidamente, enquanto começo a juntar minhas coisas ignorando sua pergunta retorica.
Respiro fundo assoprando alguns fios de cabelo enquanto contava de até 10 varias vezes.